A memória de uma cidade tem por cenário a arquitetura e os lugares dessa cidade. A forma como interpretamos as nossas experiências no espaço e como guardamos as imagens diante dos nossos olhos, transforma-se na nossa realidade, através da qual atribuímos significados ao nosso mundo físico. Fixamos assim em nossa memória uma cidade análoga, presa no tempo, repondo-se insistentemente apesar das alterações da cidade real. Em A Poética do Espaço (1958), Gaston Bachelard afirma que “O inconsciente estagia. As lembranças são imóveis e tanto mais sólidas quanto mais bem espacializadas.” São as memórias localizadas na região da intimidade que nos dão o sentido de valorização dos lugares. O sonho e imaginação que provem da memória provocam transformações no ser. Sem esta possibilidade de devaneio dá-se um estreitamento da imaginação e a acomodação em relação à realidade. Na procura pela representação de uma memória da cidade surge a questão de qual o meio mais apropriado para traduzir essa cidade análoga. Rodrigo Vila utiliza o filme em película como que num paralelismo com as várias imagens que guardamos em nossa memória. Temos o exato momento que ficou preso em nosso pensamento repartido em inúmeras imagens por segundo. São fotografias, são filme e são a parte de nós que controla a velocidade que a cidade parada no tempo se desenvolve nas nossas lembranças. Através de uma câmera de filmar Super 8, e de películas antigas e já expiradas, Rodrigo Vila captura imagens da cidade que posteriormente revela, através de um processo artesanal com café, fotografa e amplia como que lembranças que surgem e crescem em nosso pensamento. Imagens desvanecidas que se tornam mais ou menos nítidas conforme as olhamos, onde o nosso cérebro adiciona detalhes e contexto. Como numa viagem pelo tempo, onde cada imagem pode remeter-nos para um tempo diferente do capturado, numa tentativa de atribuir as nossas próprias memórias às imagens dessa cidade análoga.